domingo, 15 de junho de 2008

GREGORY



Adormeceu entre as pragas que lhe cercavam. Como em todas as noites, dormia sem sossego, sobressaltado à noite por mãos, espíritos que o perseguiam, e dizia que queria sua luz. Quando criança ardia em febre de medo, e corria para a mãe, que nunca lhe disse que o amava.


Nem mesmo quando uma paixão fugaz e terna batia sua porta, esses espíritos o deixavam em paz, e dizia que estavam querendo sugá-lo, pois sempre montavam à sua espreita, como se fossem ladrões de sua alma.


E ele acordava aos gritos, atormentado, como se uma metamorfose se processasse em seu corpo, deixando-o, exposto a todas as dores, em pele, em casca de insetos bezourentos, que zuniam sons mórbidos, sons da morte.


Não tinha envergadura, não tinha espinha dorsal, parecia estar em um colapso da alma. Não tinha aquilo que mantêm um homem em pé, quando vem o vento forte, já que qualquer brisa lhe derrubaria.


Não havia quem não percebesse sua loucura de longe, pois o rótulo lhe figurava no rosto: “Louco,indefeso”. Era uma figura magra, nada viril, quase anorexo, que se alimentava mal, para não dar asas aos seus prazeres. Rezava o tempo todo, não como um católico, mas um amante de paganismos, seitas xamânicas, e via sinais em todos os lugares, até mesmo num simples relato do clima.


No entanto, apesar dessa aparência frágil, causava nas pessoas uma compaixão sem tamanho, pois transpirava ternura. Que estranho contraste! Aquele inferno dantesco da alma, e seu olhar terno, como de uma criança,como se ainda não tivesse amadurecido, como se vivesse na tenra infância de sonhos.





Museu de imagens do Inconsciente

2 comentários:

Diogo Melo disse...

Ah Gregory... Que famigerados processos kafkanianos espreitam teu frágil corpo e tua resiliente alma ?

Perséfone disse...

Você reconhecerá com o tempo,todos os processos kafkanianos que forem revelados aos meus ouvidos, pela alma de Gregory.
E quem sabe se torne o personagem central de um livro!

OBG!Pelo apoio de sempre!