quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A MAIOR SOLIDÃO É A DO SER QUE NÃO AMA

VINICIUS DE MORAES

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.

A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,
o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.

O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,
o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

VEM , SERENIDADE!


Vem, serenidade!
Vem cobrir a longa
fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz
a não ser pela dupla humidade das bocas.

Vem, serenidade!
faz com que os beijos cheguem à altura dos ombros
e com que os ombros subam à altura dos lábios,
faz com que os lábios cheguem à altura dos beijos.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

BOM É QUE NÃO ESQUEÇAIS


Bom é que não esqueçais
Que o que dá ao amor rara qualidade
É a sua timidez envergonhada
Entregai-vos ao travo doce das delicias
Que filhas são dos seus tormentos
Porém, não busqueis poder no amor
Que só quem da sua lei se sente escravo
Pode considerar-se realmente livre

CANTIGA DE AMOR


Porque não queres contar as estrelas comigo?
Acaso a noite não lhe parece tão bela
e a lua tão majestosa?

Triste dos homens de nosso tempo
que já não vêem a lua como senhora dos amantes.
e nem o céu repleto de encantos.

Não será tão deliciosamente vertiginoso
se entregar por inteiro a quem te ama?
Não será divino deixar que a flecha fira seu coração docemente
e saborear todos os caminhos que a brisa do amor te levar?

Não é doce meu olhar e quente o meu corpo?
Ele tão te clama e sofre com sua ausência?
Não é pecado recusar em ti um amor que só cresce a todo instante?

Será que nossas diferenças te impedem de me amar
como seu fosse a única?
Não é a vida feita de únicos instantes e é isto é tudo o que nos temos?
Acaso não percebes que ao pensar na vida inteira
perde o significado singular de cada momento?

Não quero ser sua mulher pra vida inteira.
Quero ser sua ESTRELA.

sábado, 19 de dezembro de 2009

CONTIGO


Longe de você, estando em lugares sombrios,
me deixo seduzir pelo primeiro crápula.

Se vejo a morte de aproximar ,e não estas perto de mim
me entrego a sua foice sem um único grito.

Se tenho que lutar contra as espécies de natureza malévola
e não tenho tua espada e teu escudo, sucumbo ao primeiro golpe.

Se em minha armadura de prata não tem uma flor com um beijo seu
qualquer um pode perfurar meu coração.

Se durmo ao relento e não sonho contigo
porque devo acordar e abrir os olhos?

Se te amo e não sonhas com meu beijo
engulo como fel minha paixão.

Se ao contrário, encontro você passeando em meu caminho
não sucumbo, não morro, não me perfuram
abro os olhos e te entrego a minha paixão, como num sonho.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

SE EU PUDESSE TRINCAR A TERRA TODA

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma cousa para trincar
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se,
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...



terça-feira, 1 de dezembro de 2009

NEGA-ME O PÃO, O AR


Nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.