quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A MAIOR SOLIDÃO É A DO SER QUE NÃO AMA

VINICIUS DE MORAES

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.

A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,
o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.

O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,
o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

VEM , SERENIDADE!


Vem, serenidade!
Vem cobrir a longa
fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz
a não ser pela dupla humidade das bocas.

Vem, serenidade!
faz com que os beijos cheguem à altura dos ombros
e com que os ombros subam à altura dos lábios,
faz com que os lábios cheguem à altura dos beijos.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

BOM É QUE NÃO ESQUEÇAIS


Bom é que não esqueçais
Que o que dá ao amor rara qualidade
É a sua timidez envergonhada
Entregai-vos ao travo doce das delicias
Que filhas são dos seus tormentos
Porém, não busqueis poder no amor
Que só quem da sua lei se sente escravo
Pode considerar-se realmente livre

CANTIGA DE AMOR


Porque não queres contar as estrelas comigo?
Acaso a noite não lhe parece tão bela
e a lua tão majestosa?

Triste dos homens de nosso tempo
que já não vêem a lua como senhora dos amantes.
e nem o céu repleto de encantos.

Não será tão deliciosamente vertiginoso
se entregar por inteiro a quem te ama?
Não será divino deixar que a flecha fira seu coração docemente
e saborear todos os caminhos que a brisa do amor te levar?

Não é doce meu olhar e quente o meu corpo?
Ele tão te clama e sofre com sua ausência?
Não é pecado recusar em ti um amor que só cresce a todo instante?

Será que nossas diferenças te impedem de me amar
como seu fosse a única?
Não é a vida feita de únicos instantes e é isto é tudo o que nos temos?
Acaso não percebes que ao pensar na vida inteira
perde o significado singular de cada momento?

Não quero ser sua mulher pra vida inteira.
Quero ser sua ESTRELA.

sábado, 19 de dezembro de 2009

CONTIGO


Longe de você, estando em lugares sombrios,
me deixo seduzir pelo primeiro crápula.

Se vejo a morte de aproximar ,e não estas perto de mim
me entrego a sua foice sem um único grito.

Se tenho que lutar contra as espécies de natureza malévola
e não tenho tua espada e teu escudo, sucumbo ao primeiro golpe.

Se em minha armadura de prata não tem uma flor com um beijo seu
qualquer um pode perfurar meu coração.

Se durmo ao relento e não sonho contigo
porque devo acordar e abrir os olhos?

Se te amo e não sonhas com meu beijo
engulo como fel minha paixão.

Se ao contrário, encontro você passeando em meu caminho
não sucumbo, não morro, não me perfuram
abro os olhos e te entrego a minha paixão, como num sonho.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

SE EU PUDESSE TRINCAR A TERRA TODA

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma cousa para trincar
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se,
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...



terça-feira, 1 de dezembro de 2009

NEGA-ME O PÃO, O AR


Nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

TER OU NÃO TER NAMORADO, EIS A QUESTÃO


Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remunerada de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil. Mas namorado, mesmo, é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega do lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado é quem não tem amor, é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar... Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa, é quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar. Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora em que passa o filme, de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai pelos parques, fliperamas, beira d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da metro. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem gosta sem curtir, quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar.

Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.

Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida, para de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O JARDIM DO MEU AMOR


Te amo com a alegria de Ícaro de ter tocado no sol
mas contando com a sabedoria de Orfeu
que desceu ao inferno para resgatar Eurípides
e diferentemente da história grega
eu não tive medo de amar e
como uma devota fiel acreditei em nós
e apostei todas as fichas e arrisquei tudo
como um boa jogadora
que aprendeu com seus erros
a hora certa de dar as cartas
a carta da rosa vermelha
sedução
a carta da olhos de uma coruja
sabedoria
a carta da fecha dourada
guerreira
a carta das liras
a poesia
a carta da máscara do riso
alegria
a carta das lágrimas de sal
fragilidade
a carta das oferendas
admiração absoluta
a carta da aliança
fidelidade
a carta do abraço
amizade
a carta da cadeira de balanço
paciência
a carta das mãos dadas
cumplicidade
a carta do espelho
identificação
Todas essas sementes plantei no jardim do meu amor
e agora espero apenas que os raios do sol
realize a fotossíntese nos meus desejos
e eu saia colhendo flores para te enfeitar.

ACROSS THE UNIVERSE - LENNON/ McCARTENEY

"Sounds of laughter, shades of love are ringing through my opened ears,
Inciting and inviting me.
Limitless undying love, which shines around me like a million suns,
And calls me on and on across the universe.

Jai guru deva, Om.

Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world.

Jai guru deva,
Jai guru deva,
Jai guru deva,
Jai guru deva,
Jai guru deva,
Jai guru deva..."

domingo, 15 de novembro de 2009

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

FUMO

Florbela Espanca

Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas;
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

sábado, 26 de setembro de 2009

LEVAI-ME POR PIEDADE ONDE A VERTIGEM

Gustavo Adolfo Bécquer

Levai-me por piedade onde a vertigem
com a razão me arranque a memória.
Por piedade! Tenho medo de ficar
com a minha dor a sós!( ASSIM ME SINTO HOJE!)
(NADA MELHOR PRA DOR QUE UM BELO PORRE, ATÉ OS GRANDES HERÓIS SUCUBEM
E PROCURAM A VERTIGEM, PARA ALÍVIO DO QUE É HUMANO, DEMASIADO HUMANO!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

E, ENORME, NESTA MASSA IRREGULAR


Cesário Verde

E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés de fel como um sinistro mar!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

MEUS ANJOS


Meu primeiro anjo veio na primavera
Quando eu tentava ouvir os primeiros acordes musicais
Escondidos em grandes conchas no fundo do mar.
Foi através dele que descobri meus tesouros
Pois era capaz de vê-los no seu olhar
e passar a entender e amar o que eu procurava como louca sem encontrar.
Esse anjo rebelde, me fez enxergar o quanto eu era especial
através do tamanho amor que sentia por ele
pois éramos tão parecidos que ama-lo
era também se apaixonar por mim.

O segundo anjo, na verdade era um demónio
Que se escondia num manto branco , toda a sua escuridão.
Como um demónio disfarçado de anjo
tinha um enorme poder sobre mim.
Não era o poder do amor, como no primeiro,
mas despertou o desejo pelo poder
e confundi esse desejo de ser poderosa, como ele, com amor
mas na verdade,
era apenas o desejo de ter mais e mais poder.
Quando tirei seu manto e vi seu verdadeiro olhar
petrifiquei de pavor e me tornei confusa
sobre o luar.

O terceiro anjo,caiu do céu e quebrou a assas
e eu tento ajudá-lo a voltar a voar
e encontrar sua terra encantada.
Ele é cheio de medo, medo de errar
Como se a vida não fosse apenas uma aventura
feita somente para praticar erros.
É um anjo que deseja ser perfeito
e sonhando com a perfeição,
não percebe que a beleza é feita de contradição
e sem conflitos não há movimento.
Eu amo esse anjo mais do que posso ou devo amar
Pois pra mim ele simbolizou o sal da vida
já que o segundo anjo deixou a morte no seu lugar.
O terceiro anjo, o puro, como costumo chamá-lo,
veste um manto negro, acreditando na praga que lhe rogaram.
Mas eu sei que na sua face se encontra
somente o mais doce e puro olhar.
Não consigo me afastar desse anjo,
e embora ache que não o mereça,
ele é um doce gostoso demais pra eu deixar passar.
E nem que seja apenas uma mordida,
que me leve de volta ao paraíso,
eu quero desde anjo provar
e vê-lo , finalmente voltar a voar.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

TUDO OU NADA


Serei apenas uma piada?
Será que aquilo que mais temo ou aquilo que mais desejo
é totalmente irreal?
Estarei apenas representando mal,
num picadeiro de um circo vazio, sem plateia,
piadas que não fazem ninguém rir e,
que me faz apenas chorar em vão?
Serei apenas vítima de meus fantasmas e das minhas fantasias?
Será que nem o título de loucura me darão?
Será que apenas me restará um rótulo vazio?

Tudo isto poderá ser verdade!
E eu seja apenas, NADA...

Mas naquele exato instante onde sou TUDO,
onde sou o meu medo,
ou sou o meu sonho,
naquele exato instante,
todo o universo estrelar brilha em mim!

domingo, 30 de agosto de 2009

DESPERTAR


Ela está no seu despertar
acordando para os sonhos e os pesadelos para onde suas fantasias vão levá-la.
O despertar da semente que plantei !
Para onde seu barco irá levá-la ?
Que tipo de semeador me sentirei ?
Plantei em solo correto ?
Aguei o quanto deveria ?
Deixei a luz do sol bater nela suficiente sem que a queimasse ?
Tirei as ervas daninhas ?
Fiz uma cerca grande demais ?
Deixei espaços em brancos de onde poderiam vir devoradores ?
Só o tempo me dará respostas...
Só a sabedoria da vivência me mostrará o que ainda poderei fazer pela minha pequena semente em seu despertar
Só meu amor infinito me fará sentir forte e gigante o bastante
pra respeitar as escolhas da minha semente e segurá-la em meus braços
quando já for tarde demais pra salvar a minha bela e pequena semente.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

É O POEMA DE QUEM RASGA OS VERSOS

António Patrício

É o poema de quem rasga os versos
porque os sentiu demais para os dizer
e os ouve nas ondas tão dispersos
como os sonhos que teve e viu morrer

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ANIMA FATAL



Sou sua fatalidade!
Farei de sua cabeça apenas um esponja que vai absorver todos os meus desejos
você não desejará mais nada,
apenas seguirá como um súdito os meus comandos.
Eu venho com garras
garras que vão entra em seu fígado e devorá-lo todas as noites
para que ele renasça no outro dia cheio da criatividade
que sedenta eu devorarei a noite.
Transformarei a todos que te seguem em porcos rastejando na lama que criei pra eles.
Você obedecerá tudo achando que esta no comando
mas sou eu e a minha malícia
rastejando constantemente em teus nervos
que te comanda em estado hipnótico.
Não podes lutar contra mim, não queres lutar contra mim,
seu desejo por mim é maior que suas ambições
maior que seus sonhos
e agora eu sou inteiramente e irrecuperavelmente toda a sua alma.

MESA DOS SONHOS



Alexandre O'Neill

Ao lado do homem vou crescendo

Defendo-me da morte quando dou
Meu corpo ao seu desejo violento
E lhe devoro o corpo lentamente

Mesa dos sonhos no meu corpo vivem
Todas as formas e começam
Todas as vidas

Ao lado do homem vou crescendo

E defendo-me da morte povoando
de novos sonhos a vida.

sábado, 15 de agosto de 2009

AMOSTRA SEM VALOR

António Gedeão

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

INTENSAMENTE, E NADA MAIS

O casamento nunca me interessou
não quero os almoços de domingos com sogros felizes com seus netinhos
não quero lençóis limpos duas vezes por semana
e longas noites bem dormidas.
Quero ver o dia clarear querendo que a noite fosse eterna....

Não quero leite morno
não quero sopas quentes em determinadas épocas do ano
quero o sorvete no inverno
quero passeios de em trens vazios e só nos dois usando seus solavancos
quero lareiras nas montanhas
quero nós dois passeando em praias desertas
quero caminhadas nas madrugadas em ruas desertas
quero noites em claro absorvida com nossos diálogos
quero me embreagar e pular em fontes proibídas
quero andar nua num lugar deserto com você
e fazer amor audaciosamente correndo o risco de sermos vistos
quero risos e risos intermináveis
quero brigas e depois arranhar e arrancar um pedaço do seu corpo nos meus dentes
e nas minhas unhas pois quero toda a sua carne
viva e sangrando no meu fogo.

Não quero compromisso convencionais ou véus e grinaldas
poderia ter tido isso
mas nunca quis ter apenas uma única paixão
quero muitas, muitas
e aquela que sinto naquele momento seja a única para mim.

SÚPLICA

Miguel Torga

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

NESTA CURVA TÃO TERNA E LANCINANTE

Alexandre O'Neill

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

NÃO TE QUERO SENÃO PORQUE TE QUERO

Pablo Neruda

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Talvez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

MEU ORGASMO

O Infinito
a negação da morte
o mais que distante sempre presente
a junção tempo e espaço
o estar em tudo
e tudo estar em mim
a perpétua existência
a plenitude
a plena existência, a completa total existência de todo o meu ser
a expansão, a realização de todas as partes ao mesmo tempo
a explosão, a vida.

terça-feira, 21 de julho de 2009

INFLAMA-ME, POENTE: FAZ-ME PERFUME E CHAMA

Juan Ramón Jiménez

Inflama-me, poente: faz-me perfume e chama;
que o meu coração seja igual a ti, poente!
descobre em mim o eterno, o que arde, o que ama,
...e o vento do esquecimento arraste o que é doente!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

OS VERSOS QUE TE FIZ

Florbela Espanca

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

terça-feira, 16 de junho de 2009

CAMINHO



Minha alma passa diante de ti com delicadeza
diante de tão doce figura!
Sufoca-se com lágrimas não vertidas
magoa-se por te desejar demais!
Caminho... caminho... caminho...
sem ter nenhum rumo certo
apenas a vontade que de um esforço físico
os músculos da minha alma se reanimem
e eu possa seguir meu percurso.
Dará-me algum deus a capacidade misericordiosa
de recupera-me de ti?
Dará-me o tempo a capacidade de ver o sol
não mais nos seus olhos?
Dará-me a razão o equilíbrio?
Ou apenas seguirei em frente, "não me importando o quanto sofra por dentro, estarei sempre perto de você.
Sempre... Sempre..."

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O CORAÇÃO DISPARADO







Na cama larga e fresca
um apetite de desespero no meu corpo.
Uivo entre duas mós.
Uivo o quê?
A mão de Deus que me mói e me larga na treva.
Na boca de barro, barro.
Quando era jovem
pedia a cruz e ladrões pra guarnecer meus flancos.
Deus era fora de mim.
Hoje peço ao homem deitado do meu lado:
Me deixa encostar em você
pra ver se eu durmo.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

I LOVE YOU




Estou curtindo o amor que sinto por você
Como curtimos uma carne em molho de vinho
Deixando o amor entranhar em cada fibra,
cada músculo,
Até ficar exalando do meu corpo todo o vinho do amor que sinto por você
E perfumar todo o ambiente em que passo
Fazendo as pessoas se lembrarem, embriagadas
Que ainda existe o grande amor
Que ele ainda não morreu
Que trago-o vivo nos meus olhos
Que ele me ressuscitou!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

ÊXTASE DE SANTA TEREZA DE ÁVILA



Escultura que levantou alguma polêmica no mundo psicanalítico, atendendo à seta do anjo e à expressão da Santa. Falo, pois, em assuntos freudianos, "que do amor a alguém,nasce o desejo desse alguém."

TERESA D’ÁVILA



Eu estou com aquele que me habita

é claro que me acompanha

por isso o meu desenho resplandece

por isso me vês por outra figura

sanguínea e vital.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O LOUCO



Eu sou a maldição
Eu sou o execrado
Sou o leproso
Sou o 13º
Sou aberração
Sou aquele que tem parte com demônio
Sou o louco
Sou o insano
Sou o desprezado
Aquele que ninguém quer
O lixo
E apesar disso,
Ou por isso,
Deixo você fora de si
Contamino você com minha loucura
Te levo as raias do absurdo
E rio...
Rio de ti e rio de mim
Somos loucos
Todos nós
Inteiramente

Odeia-me porque sou aquilo que odeias em ti
Por isso me enjaula
Prende-me
Põe-me no hospício
Eu rio de ti
Pobre animal rastejante
Que tem medo de si mesmo
Saiba que eu estou em você
Mas você não esta em mim
Posso rir, posso chorar, sou louco
E você não pode morrer de amor
Não pode enlouquecer de um sonho
Tem que rastejar na realidade
Eu posso gritar que deus sou eu
Que sou Vênus
Ou Dionísio
E ele...
Ele é o lindo Apolo
E tudo isso ser verdade
Pois sou criança
Sou poeta
Sou livre.

O QUARTO




Sinto vontade de ficar nua simplesmente, sem fazer nada, apenas poder roçar meu pés no seu sexo e ver você decorar cada detalhe do meu corpo em sua mente.
Silêncio, nossa respiração lenta e tranqüila e cheiro do quarto fechado há dias conosco lá dentro. Uma hora antes nossa respiração e corações acelerados, denunciariam porque há tantos dias não queremos ver a cara do mundo. A desarrumação do quarto, de toda a casa. É necessário usar roupa no paraíso? Vivencio tudo tão intensamente que sou cada objeto que me cerca. Sou você também e acima de tudo, tranqüilamente e extensamente até a ultima fronteira, Eu mesma.
Ando descalça livre e nua no paraíso. Segura e dona de tudo. Nada perderei desse quadro, que ficará eterno em mim, como inocência. Sim! Você consegue extrair toda a pureza que há em mim. Mesmo quando sou uma cadela louca, como você deseja, ainda assim, sou angelical.
Os objetos do quarto guardam um pouco da nossa alma. Ali esta tudo o que amamos e espelham nossos desejos. Os livros, as músicas, os filmes, os jogos... Adoro passear entre páginas amarelas de livros que não são abertos a muito tempo, por isso sempre visitamos antiquários e sebos. È um dos melhores passeios que faço contigo. Depois é claro, os cinemas. Os cheiros das salas de projeção, o hall de entrada, as cadeiras largas, o carpete vermelho. Gostamos de cinemas velhos, antigos, que guardam o glamour da sétima arte. Nada de shoppings e salas apertadas. Somos tão parecidos em nossas paixões e tão diferentes na personalidade. Sempre me pergunto como isso pode ocorrer.
Mas somos ambos muito sensíveis, doces delicados, amáveis, E mesmo frágeis como cristais. Conciliatórios! Você até mais que eu. Estas sempre disposto a perdoar minhas bobagens de menina. Como te amo mais por isso...
Voltamos para casa. Juntos cozinhamos para o nosso paladar. Sensações que são apreciadas com vinho e música. Sempre estamos brincando de faz de conta. É necessária muita imaginação para viver um grande amor.
Sinto um pouco de tristeza, talvez, ao pensar que mesmo estando com você, esse momento deixará de existir. Essa suspensão do tempo. No entanto, aqui sempre estarei .

sábado, 24 de janeiro de 2009

FANATISMO



Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida

Não vejo nada assim enlouquecida
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida

Tudo no mundo é frágil, tudo passa
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim
E, olhos postos em ti, digo de rastros:

"Podem voar mundos, morrer astros
Que tu és como um Deus... Princípio e Fim"

"Podem voar mundos, morrer astros
Que tu és como um Deus... Princípio e Fim"

Eu já te falei de tudo, mas tudo isso é pouco
Diante do que sinto

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida

Não vejo nada assim enlouquecida
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida

Tudo no mundo é frágil, tudo passa
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim
E, olhos postos em ti, digo de rastros:

"Podem voar mundos, morrer astros
Que tu és como um Deus... Princípio e Fim"

"Podem voar mundos, morrer astros
Que tu és como um Deus... Princípio e Fim"

"Mas, podem voar mundos, morrer astros
Que tu és como um Deus... Princípio e Fim"

Eu já te falei de tudo, mas tudo isso é pouco
Diante do que sinto

Florbela Espanca

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

SEDUÇÃO



SEDUÇÃO

Seduzo-te
Inocentemente, em gestos lentos e delicados
Sigo regras milenares da arte
A natureza arquetípica guia meus passos
Construo uma teia macia, cheirosa e viciante para te prender
Você se deixa ser presa
Abatida com precisão
Feliz em ser devorado

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A ESPERA




A espera é repleta de silêncio
Repleta de um ensurdecedor silêncio
O silencio das madrugadas
Das noites não dormidas
Dos monólogos de minha alma
A espera é repleta de uma luta sem glórias
Sem nenhum ringue de chegada, sem nenhum campo de batalha
A espera é uma luta subjetiva
Só você vê
Só você sente
Não há coroas e nem flores
Apenas o exercício da eterna paciência
A espera é algo fundamentalmente feminino
O esperar de um filho em nosso ventre
O esperar infinito em nove meses
A semente crescendo
Sugando e se fortalecendo das suas entranhas
A perpetuação da espécie
O trabalho silencioso e sagrado que a natureza opera no ventre de uma mulher
E ela é apenas um ente tomado de uma força maior que a sua
A força da vida
Que necessita se perpetuar
Que jamais deixará de querer estar
Viva!


AMOR PERFEITO

Você é um sonho
Algo que toco através de um espelho
Você esta do outro lado, imagem apenas do outro lado
Não esta no mundo real
É apenas paisagem de uma miragem no deserto da minha alma
Não posso tocá-lo com meus cabelos e nem posso sentir o seu cheiro
Sonho apenas
Sonho apenas
Sonho e sofro acordada
Mais dormindo e completamente anestesiada da realidade
Bêbada de desejos e vontades irrealizadas
Extasiada diante da sua perfeição
Amor perfeito
É aquele que nunca ocorreu

ETERNO RETORNO



Estou triste. Entristecida com o tempo e a distância que me separam de você
Choro, e tento acalmar meu coração
Brinco com meus pensamentos
Com o que há de você neles
Cansada como um relógio conto as horas e os minutos
A agonia, aos poucos, me sufoca
Ando de lá pra cá, em círculos, como um animal preso em uma jaula
Gravo cada detalhe dessa prisão
Nada passa despercebido
Estou exalando minha agonia
Meu corpo fede e soa minha agonia
A melhor maneira de acabar com uma dor
É senti-la até o fim, até sua ultima gota
Até esgotar todo o seu poder.
Depois é só trocar de pele
Pois a dor ao se deteriorar fertiliza tua alma
E torna-te mais vivo
Pra viver outras tantas vidas e agonias.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009



EM RESPOSTA


Cultuo você em um altar erigido em sua homenagem
Levo flores, doces e toda forma de oferenda
Levo a mim mesma num culto asteca
Levo o meu coração vivo e pulsando pra você devorar
E entrego-me
ENTREGO-ME
Entrego-me, o meu sangue e minha saliva em sacrifício


Isto ocorre externamente
Pois sinto uma imensa necessidade de externalizar o que sinto
Pois tudo ocorre mais verdadeiramente no meu mundo interno
Subjetivo
E lá só amor cresce
Cresce como num jardim secreto
Serena, calma e vagarosamente
Docemente sementes crescem em meu mundo interno
E apesar da aparente essência dionisíaca de meus sentimentos
Você representa Apolo em meu coração
E aprendo a amar mais que só desejar