sábado, 2 de agosto de 2008

ENIGMAS " O outro"

"E investiu contra o primeiro moinho que se lhe deparou; Cravando-lhe a lança na asa..." - Miguel Cervantes, "O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha", Livro I - Capítulo 8; Ilustração por Gustavo Doré

I- " ELE"


Seu olhar vê em mim os gigantes que carregas em ti,
Fazendo-me multiplicar como uma explosão celular.
Entras e abres facilmente as portas dos meus labirintos,
Que só abrem para as suas mãos e seu corpo poderem entrar.


Nisso me libertas de laços que fiz para me prender.
E cresço contigo, vôo em suas asas de falcão,
Em territórios que jamais sonhei estar.


Ave, que de longe vê tanto,e o alvo sabe acertar
Inspira-me!
Preenchas o que falta em mim
Deixa que um ser da terra e do mar,
Sintas e voe no seu ar!


Empresta-me seu ardil, sua força, sua magnitude
Seja meu guia neste vôo e minhas asas,
Amo-te!


II - "A Senhora"


Que sincronia nos uniu neste momento?
Porque justamente agora percorres o meu caminho?
Porque olho você e vejo um momento sagrado em minha vida?
Porque vejo em você coisas que procuro em mim?
Que escolhas ou desejos inconscientes
trazemos em nós que nos empurra na direção um do outro?


Tenho medo de encontrar respostas a todos enigmas...
porque não posso simplesmente viver esse amor?
Eu que sempre procurei respostas pra tudo
hoje quero apenas esquecer, e viver como uma pipa solta no seu ar.


Se olho para a senhora realidade,
ela com a carranca feia de sempre me diz,
que o tempo, a distância, as diferenças e até as semelhanças,
torna o impossível a única coisa razoável a ser feita.
Mas eu brigo com ela numa luta bem feia,
me machuco, tanto, pois suas armas me ferem a cada golpe,
e eu nem chego a tocar nela
com sopro de vida que exalo do meu coração palpitante.
Ela nem se toca,nem se abala
e me olha com um olhar que mostra ser toda inútil a minha luta.


Senhora, que quebra todas as armas que possuo e fere meu coração
eu irei morrer lutando, não importa se sabemos que perderei,
Não importa!
É que pequenos sonhos que fazem respirar,
me fazem suspirar e aliviar cada ferida que a senhora me impõe!


E mesmo eu tão pequena e a senhora tão grande,
Serei sempre um enigma para você!
Porque luto inutilmente e ainda trago em meu rosto momentos de prazer?


Porque senhora, sou devota de outro Deus, muito mais poderoso,
onde só uma gota dele faz crescer mundos em questões de segundos!
E onde você só destroí, ele constroí
onde você abala, ele ressuscita
onde você empurra, ele dá asas!


É o DESEJO, senhora dona necessidade,
A quem eu sempre amarei dionisiacamente,
num frenesi que te deixará tonta de raiva e fará sua lança atravessar meu coração,
impiedosamente!
E daí?
E daí?
E daí?
Mesmo após minha morte eu irei rir de você,
Pois eu te entendo senhora, e para você,
sempre serei um enigma!