domingo, 30 de agosto de 2009

DESPERTAR


Ela está no seu despertar
acordando para os sonhos e os pesadelos para onde suas fantasias vão levá-la.
O despertar da semente que plantei !
Para onde seu barco irá levá-la ?
Que tipo de semeador me sentirei ?
Plantei em solo correto ?
Aguei o quanto deveria ?
Deixei a luz do sol bater nela suficiente sem que a queimasse ?
Tirei as ervas daninhas ?
Fiz uma cerca grande demais ?
Deixei espaços em brancos de onde poderiam vir devoradores ?
Só o tempo me dará respostas...
Só a sabedoria da vivência me mostrará o que ainda poderei fazer pela minha pequena semente em seu despertar
Só meu amor infinito me fará sentir forte e gigante o bastante
pra respeitar as escolhas da minha semente e segurá-la em meus braços
quando já for tarde demais pra salvar a minha bela e pequena semente.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

É O POEMA DE QUEM RASGA OS VERSOS

António Patrício

É o poema de quem rasga os versos
porque os sentiu demais para os dizer
e os ouve nas ondas tão dispersos
como os sonhos que teve e viu morrer

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ANIMA FATAL



Sou sua fatalidade!
Farei de sua cabeça apenas um esponja que vai absorver todos os meus desejos
você não desejará mais nada,
apenas seguirá como um súdito os meus comandos.
Eu venho com garras
garras que vão entra em seu fígado e devorá-lo todas as noites
para que ele renasça no outro dia cheio da criatividade
que sedenta eu devorarei a noite.
Transformarei a todos que te seguem em porcos rastejando na lama que criei pra eles.
Você obedecerá tudo achando que esta no comando
mas sou eu e a minha malícia
rastejando constantemente em teus nervos
que te comanda em estado hipnótico.
Não podes lutar contra mim, não queres lutar contra mim,
seu desejo por mim é maior que suas ambições
maior que seus sonhos
e agora eu sou inteiramente e irrecuperavelmente toda a sua alma.

MESA DOS SONHOS



Alexandre O'Neill

Ao lado do homem vou crescendo

Defendo-me da morte quando dou
Meu corpo ao seu desejo violento
E lhe devoro o corpo lentamente

Mesa dos sonhos no meu corpo vivem
Todas as formas e começam
Todas as vidas

Ao lado do homem vou crescendo

E defendo-me da morte povoando
de novos sonhos a vida.

sábado, 15 de agosto de 2009

AMOSTRA SEM VALOR

António Gedeão

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

INTENSAMENTE, E NADA MAIS

O casamento nunca me interessou
não quero os almoços de domingos com sogros felizes com seus netinhos
não quero lençóis limpos duas vezes por semana
e longas noites bem dormidas.
Quero ver o dia clarear querendo que a noite fosse eterna....

Não quero leite morno
não quero sopas quentes em determinadas épocas do ano
quero o sorvete no inverno
quero passeios de em trens vazios e só nos dois usando seus solavancos
quero lareiras nas montanhas
quero nós dois passeando em praias desertas
quero caminhadas nas madrugadas em ruas desertas
quero noites em claro absorvida com nossos diálogos
quero me embreagar e pular em fontes proibídas
quero andar nua num lugar deserto com você
e fazer amor audaciosamente correndo o risco de sermos vistos
quero risos e risos intermináveis
quero brigas e depois arranhar e arrancar um pedaço do seu corpo nos meus dentes
e nas minhas unhas pois quero toda a sua carne
viva e sangrando no meu fogo.

Não quero compromisso convencionais ou véus e grinaldas
poderia ter tido isso
mas nunca quis ter apenas uma única paixão
quero muitas, muitas
e aquela que sinto naquele momento seja a única para mim.

SÚPLICA

Miguel Torga

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

NESTA CURVA TÃO TERNA E LANCINANTE

Alexandre O'Neill

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

NÃO TE QUERO SENÃO PORQUE TE QUERO

Pablo Neruda

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Talvez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.