sábado, 4 de dezembro de 2010

O ENTERRADO VIVO

CARLOS DRUMMOND ANDRADE

É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre.
Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração.
Não me façam ser quem não sou.
Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente.
Não sei amar pela metade.
Não sei viver de mentira.
Não sei voar de pés no chão.
Sou sempre eu mesma,
Mas com certeza não serei a mesma pra sempre...

Clarisse Lispector

quinta-feira, 17 de junho de 2010

ECHOES

odeio o mundo passo as vezes correndo
e saio do sol
não quero a luz
corro para escuridão
e passo gilete fina no meu corpo
e depois sal pra chorar

pra que harmonia?
se o caos me atrai mais
um lindo demônio lambe meu sexo
eu rezo pra ele não parar
grito:quero mais!
hedonismo
sadismos passeiam pelo meu corpo
é caos imperativo
eu me queimo
num fogo interno
viro cinzas
não sou mais nada
que alivio!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

TEUS OLHOS

Teus olhos
Negros como Azeviche...
Brilhantes como a luz do dia....
Quero senti-los brilhar por mim!
                                          
                                         Akasha De Lioncout

MORRER DE AMOR

te amo
assim quando nasces pela manha
limpo e leve
e se seca ao sol
que é mais luz que calor
te amo
e é como uma bola de pingue-pongue descendo pela garganta
mal consigo respirar
estremeço
olho pra você e penso: vou morrer de amor?


a tarde
já estas enfastiado do dia
e torces pra que chegue seu fim
te amo  e me enfastio também
vou assassinar o tempo
pra te libertar deste tirano
das tuas obrigações
pra que vagues livre
entre seus desejos


a noite
você é dono do mundo
e faz a roda girar
e alarga o tempo e faz crescer o seu espaço
eu choro
com medo de suas manias e de seus acessos
quero que me batas e tenha prazer com isto
mais e mais prazer
e se torne meu dependente químico
eu sinto prazer  na tortura, na entrega
na escravidão
lasciva passividade
absorta em ser sangue, verme, carne
no prazer de estar por um fio
diante da morte
e poder olha-la de frente
e rir
suavemente
sou mais forte que ti
por um fio
mas sou

domingo, 13 de junho de 2010

TEMPO?

 Viviane Mosé

quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele soprando sulcos?
o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina

sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma
  
(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)


acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em  


e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás

um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos

acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando


terça-feira, 1 de junho de 2010

MEU AMOR IMPOSSÌVEL

Esse meu grande amor impossível,como de TRISTÃO E ISOLDA,deixará a segurança do trágico,pra inventar sua possibilidade.  Esse meu amor impossível,é um amor do encontro,o amor que me lança,é o amor que me acorda, que me irrita,que me transforma. 
Se tornar o sonho de alguém é  se tornar poesia encarnada aos olhos de quem te ama.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

MAOMÉ

UMA HOMENAGEM AO PROFETA MAOMÉ.! DE UMA ATEIA! 

sexta-feira, 23 de abril de 2010

SÊ PACIENTE;E ESPERA

Eugénio de Andrade 
Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

JULGAMENTO DE SÓCRATES

O professor de filosofia chegando à escola da pequena cidade do interior paulista propõe uma simulação do julgamento do grande pensador grego, Sócrates. Montaram o cenário, com juiz, acusadores, defesa e é claro o réu. E fizeram um roteiro da pequena peça. Com autorização do educador, iniciaram a encenação.

O interprete de Sócrates recusa o seu direito de defesa, pois se defender é se auto acusar. Sem perder tempo, a acusação começa: - Esse homem, na vossa frente, não crê nos nossos deuses locais venerados. Como pode, abandoná-lo e interessar-se pela problemática humana. Ele tira o poder dos deuses, e, coloca-o na sabedoria humana. Ah! Pergunte para ele? Qual a essência do homem? Dirá que é a alma humana, e não nossos deuses. Quero que prestem muita atenção no que direi e encerro a minha fala, esse tal de Sócrates, chegou a afirmar que a alma humana é a maior riqueza que os mortais tamanha a sua petulância! Como se isso fosse suficiente, ainda corrompe nossos jovens a segui-lo.

O juiz ouve atentamente as acusações. E pergunta: - Sócrates você quer se defender?
Ele apenas acena com a cabeça negativamente.

O juiz pede um tempo, para analisar o processo, após longa espera, o juiz volta e diz: - Vocês acusam esse homem, porque ele afirma que o maior bem humano não é o corpo, mas sim a psyche, ou seja, a alma, a inteligência. A alma nos ordena com a célebre frase socrática “Conhece a ti mesmo”. Esse homem além de extremamente virtuoso, propõe nada mais que autodomínio da racionalidade, sugerindo uma liberdade interior que controle os instintos e desejos. Ele afirma que a felicidade não vem das coisas exteriores, e não mesmo, mas sim do intimo alma humana. Vocês querem condenar um homem que propõe a paz, pois a única arma existente para ele é a razão persuasiva. Sabe por que Sócrates não acredita nos nossos deuses? Pois para esse sábio há um Deus Inteligente e Ordenador, por isso ele não venera nossos deuses. Nisso a assembléia se revolta. Uma pequena confusão se forma. Mas o juiz pacificou dizendo que anunciaria a sua decisão. Após pedir ordem disse: - Eu em nome da lei que me foi confiada eu te absolvo. A confusão tornou-se a complicar e acabaram por lincharem Sócrates.

E o apresentador da simulação encerra com voz forte e pausadamente. - Mas uma vez a democracia, vontade da maioria condena Sócrates.

O professor finaliza a aula dessa forma: - Essa história é inverídica, usada apenas para aludir como ainda hoje condenamos sábios, com base nos nossos princípios religiosos, morais ideológicos e políticos.
Por Márcio Alexandre da Silva (Márcio Alexandre da Silva é formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

VIVER É IR MORRENDO A BEIJAR A LUZ


Viver é ir morrendo a beijar a luz.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

APENAS NOS ILUDIMOS, PENSANDO SER DONOS DAS COISAS

Desconhecido

Apenas nos iludimos, pensando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Nao perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.

sábado, 20 de março de 2010

TERROR DE AMAR

Sophia de Mello Breyner Andresen



Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa


quinta-feira, 18 de março de 2010

OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO

Carlos Drummond de AndradE

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
 
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

terça-feira, 16 de março de 2010

O POETA PEDE A SEU AMOR QUE LHE ESCREVA

Garcia Lorca

Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de mordiscos e açucenas.
Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.

AS MULHERES NO ATEÍSMO



Eu sou uma mulher também extremamente emotiva e sensível, além de ser extremamente questionadora,reflexiva, filosófica e poética. A minha grande necessidade de questionar e racionalizar sobre a vida, a sociedade, o ser humano, o universo, a morte, o amor, a intolerância, a verdadeira solidariedade, a sexualidade, o domínio dos homens sobre as mulheres, a origem do universo, a robótica, os avanços tecnológicos, a destruição do meio ambiente, a internet como meio revolucionário de comunicação comparável a invenção da impressa no seculo XV ,o direito ao aborto, entre tantas outras  e infinitas questões, não me impedem de ser poética, feminina, sensível, intensa e extremamente emotiva.
ASSUMO COM TODAS AS LETRAS, COM GRANDE CONVICÇÃO E CORAGEM:"SOU UMA ATEIA DE CARTEIRINHA"

ATEÌSMO

Sou ateia e meu pai morreu esta semana. Fiquei muito triste e chorei muito,pela saudade e falta que irá me fazer. Um parente teísta chegou perto de mim, e de forma totalmente desrespeitosa, fez a seguinte afirmativa :"PORQUE VOCÊ ESTÁ CHORANDO SE VOCÊ NÃO ACREDITA EM DEUS E nem VIDA APÓS A MORTE?" Notem o tamanho da ofensa e da total falta de tolerância com as explicações que nós ateus damos as mesmas questões sobre a vida e sobre a morte, ao ponto, de nos colocarem quase sem capacidade de amar os outros. É devido a INTOLERÂNCIA para com o outro , o diferente, que ao longo de toda a história humana, EM NOME DE DEUS, se matou milhões de pessoas, por simplesmente acreditarem ,serem e defenderem ideias diferentes. Neste início do século XXI, percebemos que o SER HUMANO aprendeu muito pouco sobre algo fundamental e nobre: A TOLERÂNCIA. 



Uma atéia de bom humor disse...
Perséfone. Lamento profundamente a tua perda, eu também perdi o meu pai há um ano e sei como se sente. O amor que sentimos pelas pessoas talvez seja até maior pelo fato de sabermos que não há outra vida. A falta que nos fazem dói muito, e lamento muito a falta de respeito que tiveram com você. Abraço solidário. Åsa

segunda-feira, 15 de março de 2010

E EU GOSTO TANTO DELA QUE NEM SEI COMO A DESEJAR

 Fernando Pessoa

E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

segunda-feira, 1 de março de 2010

MADRIGAIS

Olho pra ti e vejo tantos caminhos
caminhos que seus pés percorreu
e caminhos que sua mente infinitamente percorre em labirintos com seu fio de Ariadne
não se cansa como um andarilho que caminha ao seu sonhado e cênico Caminho de Santiago.
Sua mente me fascina
e as marcas do seu tempo de trazem cicatrizes onde passaria o com meus beijos um bálsamo
e aliviariam a dor de um aventureiro
que só procura um porto seguro
 pra repousar sua cabeça e sonhar com lugares madrigais.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

FIRTH OF FIFTH

The path is clear
Though no eyes can see
The course laid down long before
And so with gods and men
The sheep remain inside their pen
Though many times
They’ve seen the way to leave

He rides majestic
Past homes of men
Who care not or gaze with joy
To see reflected there
The trees, the sky, the lily fair
The scene of death is lying just below

The mountains cuts off the town from view
Like a cancer growth is removed by skill
Let it be revealed
A waterfall, his madrigal
An inland sea, his symphony

Undinal songs
Urge the sailors on
Till lured by sirens' cry

Now as the river dissolves in sea
So Neptune has claimed another soul
And so with gods and men
The sheep remain inside their pen
Until the Shepherd leads his flock away

The sands of time were eroded by
The river of constant change

ESTUÁRIO DO QUINTO*

O caminho é claro
Embora os olhos não possam ver
O percurso foi traçado muito tempo atrás
E então com deuses e homens
As ovelhas permanecem em seus cercados
Embora muitas vezes
Elas vissem o caminho para fugir

Ele cavalga majestosamente
Passa pelas casas dos homens
Que não se importam ou contemplam com alegria
Para ver refletido lá
As árvores, o céu, o lírio formoso
A cena de morte está logo abaixo

As montanhas cortam a cidade de vista
Como um tumor de câncer removido por perícia
Deixe que seja revelado
Uma cachoeira, seu madrigal
Um mar do interior, sua sinfonia

Canções das Ninfas das Águas*
Encorajam os marinheiros a seguir adiante
Até serem atraídos pelo canto das sereias

Agora enquanto o rio deságua no mar
Então Netuno* reivindica outra alma
E assim com deuses e homens
As ovelhas permanecem em seus cercados
Até o Pastor conduzir seu rebanho

As areias do tempo foram corroídas pelo
Rio de mudança constante


sábado, 20 de fevereiro de 2010

ELOGIO DO PECADO

Bruna Lombardi


Ela é uma mulher que goza
celestial sublime
isso a torna perigosa
e você não pode nada contra o crime
dela ser uma mulher que goza

você pode persegui-la, ameaçá-la
tachá-la, matá-la se quiser
retalhar seu corpo, deixá-lo exposto
pra servir de exemplo.
É inútil. Ela agora pode resistir
ao mais feroz dos tempos
à ira, ao pior julgamento
repara, ela renasce e brota
nova rosa

Atravessou a história
foi queimada viva, acusada
desceu ao fundo dos infernos
e já não teme nada
retorna inteira, maior, mais larga
absolutamente poderosa.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

POEMA DO SILÊNCIO


Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.

sábado, 16 de janeiro de 2010

DO AMOR QUE SINTO



Há tantos dias vasculho minha alma sem respostas
Há tantos dias procuro você: Onde você está?
Há tantos dias você a meu lado e não me vias.
Hoje sentada em frente ao espelho perguntei: Ele me ama?
E o espelho respondeu: Fique em silêncio e escute o coração dele batendo.
Sim, eu procuro ouvir seu coração. Antes batia acelerado descompassado de emoção.  Hoje bate calmamente.
Acalme-se!, respondeu o espelho.
Hoje, reli um poema que ele me fez: "Um beijo nos seus lábios angelicais, e outro nos seus lábios infernais".
Não é mais o amante que vivia grafitando poemas nas minhas pernas.
Me sinto só, amando um sonho!

domingo, 3 de janeiro de 2010

DEVIA MORRER-SE DE OUTRA MANEIRA


Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos...
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen...
como aquela nuvem além vêem? — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

QUANDO EU ESTIVER COM AS RAÍZES


Quando eu estiver com as raízes
chama-me com tua voz.
Irá parecer-me que entra
a tremer a luz do sol.